segunda-feira, 23 de junho de 2008

Despedida do Marcelo

O inverno torna a vida na rua muito mais difícil. Hoje perdi mais um amigo integrante do Boca de Rua. Marcelo Souza Guedes morreu dormindo na rua, provavelmente por causa do frio. É apenas junho e só nesse inverno faleceram duas pessoas que me eram queridas.
Fico imaginando o quão duro deve ser dormir ao relento em dias como ontem e hoje. Eu passo frio dentro da minha casa, onde tenho estufas, cobertas e muitas roupas. Vários deles dormem direto nas calçadas, sem nada para se cobrir.
Porto Alegre e outras cidades tão frias deveriam ter projetos efetivos para que as pessoas não precisem dormir nas ruas durante o inverno. As vagas são ampliadas, mas continuam insuficientes. E as regras continuam rígidas como sempre, o que impede o acesso.
Será que nem o frio torna os moradores de rua menos invisíveis?

3 comentários:

Vica disse...

Bah, guria, que triste isso.

Moysés Neto disse...

Aqui jaz um século
semiótico e despótico,
que se pensou dialético
e foi patético e aidético.
Um século que decretou
a morte de Deus,
a morte da história,
a morte do homem,
em que se pisou na Lua
e se morreu de fome.
(Affonso Romano de Sant'anna, em "Epitáfio para o Século XX").

Juriká disse...

A invisibilidade de uns, serve a visibilidade de outros (L. E. Soares) - enquanto isso, os ratos saem dos porões para morrerem nas ruas, aos olhos dos homens (A. Camus, A Peste). Brutais murmúrios para quem consegue ouvi-los...