quinta-feira, 12 de junho de 2008

E o mundo tem uma Barbie a menos

Durante toda a minha infância eu fui apaixonada por Barbies. Foram sempre o meu brinquedo favorito e, além das bonecas, tive muitos outros apetrechos relacionados a elas (como a piscina, a sorveteria, a lanchonete, a cozinha).

Por isso, achei graça quando conheci a Barbie de carne e osso: uma pessoa pequeninha, com os cabelos descoloridos e curtos, uma voz mansa e de fala arrastada, bem diferente do que eu imaginava a boneca - que na minha imaginação infantil era uma mulher alta, esbelta e imponente. A Barbie porto-alegrense sempre aparecia trazida pela Chineza, mas nunca se demorava muito no Boca de Rua. Ela gostava de viajar e o fazia bastante. Se não me engano, da última vez caminhou de Minas Gerais até São Paulo. Voltou e resolveu entrar de vez no Boca. Foi aí que tive mais contato com ela.

Ela ganhou um crachá escrito Jerri e participou de dois encontros da oficina de vídeo que eu organizei. No encontro em que se decidiu que a Barbie representaria o papel da mãe no filme que faríamos, ela queixava-se de fortes dores de cabeça e do medo de ter uma doença mais grave.

Depois disso, a Barbie sumiu das reuniões. “Foi para o abrigo”, disse a Chineza. No dia da gravação do filme, não apareceu.

Hoje eu descobri que ela morreu no hospital da Vila Nova. Ao que parece, por falência múltipla dos órgãos. Desde que trabalho no jornal, é para mim a maior perda. Convivi muito pouco com ela, mas conheci uma pessoa alegre, contadora de histórias e que gostava muito de festas. Nas duas últimas vezes que a vi, estava se apagando, mas essa morte foi para mim muito inesperada.

Não sei se ela teve enterro, se ela tem família, se os amigos dela já sabem. Sei que passei todo o dia com uma sensação de impotência gigantesca e a única coisa que me senti capaz foi de prestar uma última homenagem a essa pessoa doce, o Jerri Santos da Costa.

2 comentários:

Anônimo disse...

Tao bonito ver que alguem se preocupa com a Barbie/Jerri, que, morador de rua ou nao, travesti ou nao, trata-se de ALGUEM cuja perda foi sentida.

Ela, a "Barbie" tinha familia sim. Tu fazia parte dela.

Marcella ﻬ disse...

Grande família ele tinha no teu grande coração, Natizilda.