quarta-feira, 30 de julho de 2008

Clube do Boquinha


Quem conhece o jornal Boca de Rua, conhece também o Boquinha, suplemento do jornal feito por 17 crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. Para participar do Boquinha, a criança ou jovem não pode estar na rua e precisa estudar. Os encontros são dedicados a brincadeiras, passeios, desenhos e outras atividades lúdicas, além da construção de alguns textos coletivos.

Diferentemente dos integrantes adultos do projeto, as crianças não podem vender o jornal. Para evitar que isto aconteça e para, de alguma maneira, dar a elas um retorno de sua dedicação e participação, cada família ou instituição responsável pelas crianças recebe uma bolsa em dinheiro. Entretanto, a Alice, ong responsável pelo projeto, têm encontrado dificuldades para conseguir a verba necessária.

Surgiu, assim, a idéia do Clube do Boquinha, um grupo de pessoas interessadas em contribuir com este projeto. Hoje, no Zelig (Sarmento Leite, 1086), às 19h, haverá um encontro para a apresentação do Clube, com o intuito de conquistar novos colaboradores. Todas as presenças e todas as contribuições são sempre bem-vindas.







segunda-feira, 21 de julho de 2008

Em julho

1. No início de julho, a Fasc decidiu incluir a população de rua no "cadastro único", o cadastro das pessoas que recebem até meio salário mínimo por mês e que podem ser beneficiadas por programas do governo federal (como o Bolsa Família e o Pro-Jovem). Para isso, finalmente deixou de exigir comprovante de residência como documento necessário. Entretanto, continuam sendo cobrados outros documentos que a maioria dessas pessoas não carrega consigo, como carteira de identidade, CPF ou título de eleitor. Assim sendo, muitos moradores de rua permanecerão excluídos de tais programas. Por vezes, parece que quem trabalha nos órgãos destinados a atender quem está na rua nunca conversou ou conviveu com eles.
2. Na mesma semana, em frente ao HPS, um morador de rua tinha uma convulsão. Mais de dez pessoas estavam paradas ao redor, tentando ajudá-lo, segurando-o, mas ninguém queria carregá-lo por medo de machucá-lo. Como estavam na frente do hospital, chamaram os médicos. Ninguém apareceu. Quando passei por ali, três pessoas já haviam entrado no hospital para pedir ajuda e ninguém fez nada. Depois de muita confusão e de várias pessoas gritando no saguão, indignadas com o descaso, os passantes resolveram levá-lo para dentro do hospital e tiveram que entrar com ele na emergência. Os médicos e enfermeiros da SAMU, ao serem xingados, responderam que não tinham bola de cristal e que ninguém os havia chamado.
Foi dos momentos mais indignantes por mim vivenciados. Incrível a falta de preocupação com um ser humano por parte de pessoas que deveriam zelar pelas vidas dos outros. O único consolo foi saber que ainda existe muita gente que se importa e que enxerga os moradores de rua.
Freqüentemente os moradores de rua são destratados pelos serviços de saúde. O Marcelo, integrante do Boca que faleceu recentemente, foi até o hospital um dia antes de sua morte e o mandaram embora.