segunda-feira, 31 de março de 2008

O que importa é o que te faz abrir os olhos de manhã

No final de semana de Páscoa, entre muitas coisas boas, uma surpresa: assistindo a reprises do Radar na TVE de madrugada, eis que faço (fazemos) minha mais nova descoberta musical. A Vanguart é uma banda de Cuiabá que se define como sendo folk-rock e cujas influências são, entre outros, Bob Dylan, Velvet Underground, Johnny Cash e Beach Boys. Gostei bastante, muito melhor que as bandinhas indie rock porto-alegrenses, na minha humilde opinião. Destaque para as músicas Semáforo, Enquanto isso na Lanchonete e Los Chicos de Ayer.
(Aos que gostam de Moptop, informo: eu acho que parece com o Moptop, mas umas dez vezes melhor. Aos que não gostam: Gabriel diz que é uma comparação sem nenhum sentido)

Como sempre acontece comigo, eu comecei a gostar da banda uma semana depois de ela fazer show em Porto Alegre. Sorte a minha que essa é brasileira e vai voltar logo pra cá.


quinta-feira, 27 de março de 2008

Uma puta história

Na última segunda-feira, 24 de março, foi lançada a terceira edição da revista Norte - cultura no sul do mundo (e eu já gostei do nome), em que gaúchos escrevem sobre literatura, cinema e artes plásticas, entre outras coisas. É uma revista magrinha, com um projeto gráfico bonito e matérias interessantes, e custa apenas R$ 3,50.
Dentre as matérias, a revista publicou o primeiro capítulo de um folhetim que está sendo escrito por seis prostitutas de Porto Alegre vinculadas ao Núcleo de Estudos da Prostituição (NEP). "Mariposa - uma puta história" é uma narrativa ficcional sobre a vida de Fran, personagem inventada misturando características da personalidade e pedaços da vida de cada uma das autoras. Como elas mesmo dizem na introdução, quem ler vai ficar "sabendo que não é verdade que prostituta não vale nada e não tem vergonha de nada".
A revista Norte já ganhou meu respeito pela iniciativa de abrir espaço para que as prostitutas falem, através da ficção, sobre como elas vivem, sobre os problemas e os aspectos positivos da sua profissão, sobre a discriminação de que são alvo. São elas mesmo mostrando como enxergam o mundo, e não alguém contando a história por elas, fazendo reportagens em que elas são apenas as fontes. É um projeto com o objetivo de fazer que vozes que nunca são ouvidas pelos meios de comunicação encontrem um espaço de manifestação. É uma tentativa de modificar alguns olhares preconceituosos, mostrando que a palavra prostituta não resume tudo o que uma pessoa é. Em Porto Alegre, são cerca de 10 mil mulheres que, além de trabalharem como prostitutas, têm famílias, sonhos, histórias sofridas ou nem tanto, assim como todo mundo.
O folhetim surgiu em oficinas de escrita coordenadas pela jornalista Rosina Duarte (minha querida chefe/colega) e pela psicóloga Maíra Brum Rieck, que se perguntavam: "o que aconteceria se essas pessoas fossem ouvidas, não na condição de marginais, de quem está do lado de fora, mas a partir do seu próprio ponto de vista? O que aconteceria se deslocássemos, ainda que levemente, o ângulo da nossa visão? O que aconteceria se escutássemos o que elas têm a dizer? "
São as mesmas questões que motivaram o surgimento do Boca de Rua e que, acredito eu, deveriam inspirar todos os veículos de comunicação comunitária.

quinta-feira, 20 de março de 2008

O telejornalismo cretino de todos os dias

Eu detesto assistir a qualquer programa de televisão, mas os telejornais têm o dom de me irritar profundamente. Eu sou uma péssima companhia para assisti-los, pois sempre discuto com a televisão (o que incomoda muito os meus pais). Os telejornais da RBS TV são os principais atingidos pela minha ira, em especial seus comentaristas - todos de altíssimo nível, lógico, sendo o Paulo Sant`ana o melhorzinho.

Hoje, porém, o Jornal da Band passou dos limites do tolerável. A matéria final da edição comentou que o projeto de lei que diminui a maioridade penal para 16 anos estava parado no Congresso. Depois começou a defesa canalha do projeto de lei: foram mostradas, pela milésima vez na televisão, fotografias do menino João Hélio, morto por um menor de 18 anos. E também fotografias do casal de adolescentes que foi brutalmente assassinado em um camping de São Paulo - por um menor de 18 anos, claro. E assim seguiram outros casos que foram abordados de maneira muito sensacionalista pela mídia brasileira na época em que ocorreram.

Mas o pior ainda estava por vir quando a matéria mostrou um adolescente acusado de assassinato que estava internado na FASE. O menino aparecia de costas, algemado, e o repórter (Fernando Vieira Mello, o âncora de hoje) exclamava, indignado: "este menino vai ficar apenas três anos internado. Ele não trabalha, faz cinco refeições por dia e ainda pode assistir a TV e jogar video-game. A população não aguenta mais isso! Está na hora dos políticos aprovarem esse projeto de lei".

Só faltou iniciar uma campanha para cortarem as refeições dos adolescentes da FASE.
Como diria o Moyses, é dose pra mamute.

segunda-feira, 3 de março de 2008

A antropologia me dá medo (e o resto do mestrado também)

Hoje descobri que um amigo querido, sociólogo, foi chamado para um curso de alguns meses na Folha de São Paulo. E que depois pode ser contratado para trabalhar no jornal. Ele decidiu não iniciar o mestrado em sociologia para estudar/trabalhar na Folha. Alegro-me imensamente porque até eu, com a minha vontade e vocação zero para a reportagem, me esforçaria para trabalhar lá. Alegro-me mais ainda por saber que o jornalismo será menos cretino com o Amaro entre seus profissionais.

(Pequena observação: particularmente, acho ridícula a campanha da Fenaj e do Sindicato dos Jornalistas do RS que defende os "Jornalistas por formação: melhor para o jornalismo, melhor para a sociedade", justo em um momento em que os cursos universitários se preocupam em formar técnicos em colocar sites no ar ou máquinas de escrever lides. E não seres pensantes, capazes de críticas consistentes ou o aprofundamento de algum assunto).



Hoje, mesmo dia em que Amaro mudou para o jornalismo, eu voltei para a antropologia. Eu bem que tento fugir, mas não consigo abandonar de vez (embora tenha desistido depois de três anos e meio remando no curso). Amanhã começa minha muito esperada vida de mestranda em comunicação, justamente com uma cadeira de Teorias da Cultura, bem distante das novas tecnologias e da estética dos meios. Estou morrendo de medo, mesmo. Serei eu capaz?