segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Ela era pessoa pública, então podemos bisbilhotar

Hoje, esperando no xerox da Fabico, acompanho o enterro da menina Eloá pela Record News. O jornalista comenta que cerca de 5000 pessoas estão presentes, já que a adolescente era pessoa pública e muito querida.
Ela não era pessoa pública e é absurdo utilizar um argumento tão canalha para explicar o sensacionalismo impressionante que domina a cobertura do caso. Repórteres constrangendo os amigos do rapaz para tentar cavar alguma informação no estilo "ele era muito ciumento, transtornado e queria bater em quem olhasse para ela". Jornalistas desrespeitando pessoas, ignorando a dor delas para vender matérias.
Essas informações não são relevantes. São utilizadas pelos meios de comunicação para chamar a atenção de pessoas que só podem ser ingênuas, caindo nos truques televisivos. Ana Maria Braga tecendo comentários sobre a sanidade mental do sequestrador, com auxílio de psicólogo/psiquiatra (ela não soube dizer a profissão do seu convidado): "Doutor, como podemos identificar se o namorado da nossa filha não é um sequestrador em potencial?", pergunta a loira-esperta.
O jornalismo brasileiro é uma vergonha e, ao que parece, fica muito feliz com a ocorrência de casos como esses, que podem render no mínimo uma semana de matérias insensíveis e que invadem a vida de todos os envolvidos sem qualquer consideração. E sem nenhuma avaliação da pertinência e da necessidade de revelar certos fatos.

5 comentários:

Juriká disse...

Natália, realmente esse "jornalismo cretino" é revoltante! Creio que compartilhamos angústias semelhantes em relação à isso.

Vica disse...

Eu acho que isso é o que mantém os meios de comunicação lucrativos. O povo gosta de sangue e sensacionalismo, é simples lei de mercado, se tem oferta, é porque há procura. Infelizmente, isso é do ser humano.

Anônimo disse...

Vica, concordo que há procura, mas também acho que certas demandas são demasiadamente alimentadas pelos meios de comunicação (quando não são criadas por eles). Cabe aos jornalistas serem, no mínimo, mais respeitosos com as pessoas.

Unknown disse...

E sem saber a profissão da pessoa, a chamava de doutor, provavelmente nem sonhava se o interlocutor tinha mesmo essa qualificação acadêmica.

Anônimo disse...

A PERGUNTA da Ana Maria Braga (phd.) reflete o ESTADO a que chegamos e EXPLICA muito do assunto-base teu post...

(beijos!)